segunda-feira, 7 de junho de 2010

Que valor!

Lá vou eu de novo comentar algo pessoal. Cheguei a pensar em desisitir, não por vergonha, mas por falta de validade. Explico: o que fiz, acompanhada, muitas pessoas já fizeram melhor e com mais dificuldades. No entanto, embuída por uma avalanche de e-mails de amigos, resolvi escrever sobre a experiência, nem que seja para compartilhar com eles, esses queridos novos e velhos companheiros, para que isso fique registrado.

Antes ainda uma advertência, pode ser que este texto se duplique ou vire uma trilogia, não prometo. Como não garanto que tudo o que quero dizer eu consiga e de uma só vez.

A experiência a ser contada, é sobre o trecho que fiz do "Caminho da fé", trilha que passa pelo interior de São Paulo e Minas Gerais e é conhecida por ter uma conotação religiosa, além de servir como treino para o caminho de Santiago. No meu caso, saí de Paraisópolis - MG e três dias depois cheguei em Campos do Jordão - SP. Foram 62 km a pé, acompanhada de uma mochila nas costas (6 kg contando o secador de cabelos e o blush), um tênis, um cajado (que achei no caminho e perdi por lá mesmo) e pessoas, essas sim, o grande ensinamento do caminho.

O primeiro trecho, 22 km, fiz acompanhada do Arthur. Com uma trilha sonora que foi de Luís Caldas a Tom Jobim, completamos com dificuldade o primeiro dia, num caminho desconhecido para os dois e que fomos desvendando juntos.

Passamos por provações, como um pão com linguiça que nos chamava pelo cheiro numa vilinha que atravessamos  e subidas "íngrids",  como bem denominou nossa amiga Cida,  pras pirambeiras que enfrentamos sem muito preparo. O ponto alto deste dia foi quando avistamos Luminosa, um oásis no meio da Mantiqueira para quem já caminhava há seis horas. Eu brava de fome, ele irritado de cansaço, mas sabíamos que mais três quilômetros eram garantia de banho e comida. Que valor!

Vista de Luminosa faltando 3km para chegarmos

Luminosa é a cidade da Dona Ditinha, a grande "manager" dona da pousada, do barzinho e do arroz com feijão mais gostoso do caminho. Depois de três intermináveis quilômetros, ela nos ofereceu comida (macarrão, arroz, feijão, tudo junto à moda mineira), banho e cama quentinhos. Enquanto nos servíamos nas panelas do seu fogão, ela ainda nos falou das dificuldades do caminho e da importância de persistir, o que nos fez acreditar que seria possível no dia seguinte, apesar das bolhas nos pés e dores no corpo, continuar o percurso com os amigos que chegariam naquela noite à cidade.

Nunca vou me esquecer do fim do tarde no banco da praça de Luminosa, eu e Arthur vendo o esforço de um homem arremessando feixe por feixe de cana de açúcar  em um terreno vazio. Cana colhida manualmente que ele trazia em seu carro de boi e depositava em outro lugar para ser usada. Tomei aulas de luz em fotografia, agora sei diferenciar uma foto de um retrato, e me conscientizei que muito em breve o sódio contido nos alimentos industrializados vai destruir o planeta Terra. Dá-lhe bananinha orgânica!

Todos os exageros me pareciam pequenos neste fim de dia depois do caminho atravessado. O valor que passei a dar às coisas tinha me escapado há algum tempo, esqueci em algum lugar que não me lembro, por  mais esforço que faça.

Ah sim, decidi que vou por partes, como os trechos do caminho que são vencidos passo a passo. Espero que acompanhem.

Ps: A foto é de Arthur Calasans e a expressão "Que valor!" também. Obrigada Arthur, pelas mãos dadas no caminho e por me ensinar a valorizar esse primeiro dia.

4 comentários:

  1. Doces caminhos ??? ou caminhos não tão doces assim ??? isso pouco importa fico EXTREMAMANTE feliz que mesmo com secador e blush, a essência do caminho vc já carrega dentro de si!
    Benvinda ao clube PEREGRINA !!
    Bjs
    Allice

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  2. Lendo da saudades.... não vejo a hora de entrar nessa historia!!!

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  3. Já fiz um caminho semelhante, mas não era com conotação religiosa, infelizmente, pois ficaria muito mais emocionante e significativo. Fomos para Serra da Canastra e foram 12 longos km, eu, meu marido e a Raquel (minha filha). Quanto avistamos um bar que servia um delicioso bolinho de mandioca, o mais delicioso que eu já provei até hoje, quase morri de felicidade. Por isso sei o significado da expressão "Que valor".
    bjs e parabéns. Tá linda a sua hisória.

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  4. QUE VALOR esses comentários! Bjos e obrigada Alicinha, Betinha e Tia Valéria.

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