quarta-feira, 10 de março de 2010

Namoro (Eco) - sustentável

Mal chegou na família e já ganha um post,  mas é por merecimento.
O Kiko, namorado da minha prima, é um cara que se preocupa com tudo o que é "Eco". Acho que se importa mesmo com o planeta, o que é louvável.

Mas não espere esse tipo de visão que todos temos, reciclar o lixo ou economizar água do banho. O que ele pensa vai além. Outro dia, tentou me explicar um projeto de um banheiro "seco". É uma coisa mirabolante, meio separada da casa, você sobe uma escada e suas necessidades vão cair num buraco com umas folhagens...eu não consigo reproduzir a explicação.

A Debora minha prima, antes muito cosmopolita, tem se interessado. Arrumou uma receita de bolo integral (delicioso, acrescento!) na qual utiliza seu magnífico liquidificador do futuro, presente do namorado. Vejam vocês mesmos:


LIQUIDIFICADOR DO FUTURO

O magnífico eletrodoméstico funciona "à muque", e você vai girando de acordo com a força necessária para cada preparo, ou seja, tem a opção de várias velocidades. Segundo o próprio Kiko, o aparelho, por exemplo, não destrói as sementes do maracujá, tornando as receitas muito mais naturais e integrais.

Outra solução para a gastança do mundo moderno, a Dé me apresentou por esses dias. Meninas, não corram à farmácia, porque a compra é só por encomenda. Trata-se do ECOabsorvente.


ABSORVENTE DO PASSADO

Além do desing avançado, a idéia se não lhe parece muito prática, é muito econômica. Custa R$ 22, 00, mas é reutilizável e você  poderá lavar quantas vezes conseguir. Se quiser levar na bolsa, não se esqueça de adquirir também o porta-absorvente feito de caixa de leite. Não é fantástico?

Bem, com tantas soluções pensadas para o futuro, acho que o que fica sustentável  é o namoro. E por esse torço mesmo! Debora e Kiko, obrigada pelas dicas e um grande beijo!!

sexta-feira, 5 de março de 2010

É aquele mesmo

Tenho tido medo...das águas, mas não só, da vida, que é só, mas que é só vida, aquela mesma, mesminha.
E tenho tido certezas, mas essas, eu sei, que não as tenho. Daí vem um amigo e diz: " Reza pra dar tudo certo e você ir até lá e cumprir sua tarefa." E também: "Estou torcendo por você!" ajuda, não mais, mas ajuda.
A gente vai lá e enfrenta e reza na hora exata, na hora errada e reza mais lá na hora e enfrenta.
E o medo, ele vai junto, e então a gente corre, tenta e chega primeiro.


Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.

Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

Carlos Drummond de Andrade



terça-feira, 2 de março de 2010

Eu li

O livro que merece o post é sobre o médium mais conhecido no Brasil, ou pelo menos entre os leigos. Uma biografia do Chico, o Xavier, escrita pelo jornalista não-espírita, Marcel Souto Maior.

Não fosse pelas frases entrecortadas pelo autor, o livro seria de ainda mais fácil leitura, mas fico pensando que não há mesmo outro jeito de contar uma história com tantas outras histórias contidas, se não dando pulos aqui e lá, para que o leitor tenha uma visão mais "completa" do que foi o biografado.

Estilos à parte, já que isso é muito pessoal e conta pouco, o mais interessante é o que pode ser contado. Se for pela via da psicanálise, que quase não me escapa, sua vida e fenômenos são explicados com alguma facilidade: o início das aparições depois da morte da mãe, que podiam ser como um aconchego à um menino que caiu nas mãos de uma madrasta sem nenhuma condição psíquica de criá-lo. Um pai bruto e ignorante, sem disposição de compreender um filho preocupado com as sutilezas da vida, poderia justificar seu encaminhamento pelo oposto, pelo belo, pelos livros e disponibilidade em lidar com as pessoas.

As alucinações seriam fenômenos elementares da psicose, e a tendência ao isolamento e a dificuldade em lidar com a sexualidade, explicariam uma vida solitária e sem nenhuma demonstração de amor que não fosse do tipo fraternal.

É claro que tudo isso merece também ser visto a partir das explicações da doutrina, no livro, bem colocadas sob a ótica de um jornalista. Todos esses "fenômenos" que constituíram a vida de Chico têm explicações físico/espirituais difíceis de serem contestadas. Vale a leitura para que o leigo, como eu, tire suas próprias conclusões.

Mas o que vale mesmo ser apontado, é capacidade de um homem, que teve muitas situações de reconhecimento e de poder que lhe era nomeado, ter permanecido firme em cultivar a humildade e certo de que esta posição o levaria ao melhor caminho. Dinheiro, fama, boas relações, nada disso o interessava e se, algumas poucas vezes, isso o chamava atenção como para um ser humano normal, rapidamente voltava atrás em seu "erro" e reconhecia que aquilo não o pertencia. Muitas vezes, com dificuldades econômicas mesmo para manter suas obras assistenciais ou com pessoas muito próximas gravemente doentes, rejeitou ajuda de todos os tipos, principalmente financeira, acreditando que a providência viria de outra parte, e vinha.

Finalmente, assistindo dias desses ao "making off" do filme que está sendo rodado sobre Chico, o diretor Daniel Filho declarou: "Sou ateu, mas acredito na veracidade de tudo o que Chico fez". Pois é, mas prefiro ainda acreditar na sua capacidade de ser humilde e ajudar as pessoas, isso sim, atitudes que merecem credibilidade e minimamente, ser copiadas. Vale o post, vale o livro, mais vale ainda pensar sobre isso.