A exposição já se foi, mas pretendo que sirva para que eu possa falar de outra coisa. Sophie Calle é artista plástica por denominação, mas duvido que por concepção. Suas obras, de tão "literárias", acabam virando livro, como em seu último trabalho no qual expôs a resposta de 104 mulheres à uma carta em que seu namorado, o também escritor Grégoire Bouiller, terminava o relacionamento amoroso que possuíam.
As respostas foram as mais diversas, claro, todas em oposição à Grégoire e solidárias à Sophie, ainda que veladamente, auxiliavam Sophie a dar seu troco. Convenhamos, o que esperar quando se pede à uma mulher, ou mais de uma, que diga algo sobre alguém (um homem) que termina um relacionamento por carta? Poderia ter sido por e-mail, SMS ou telefone, não seria diferente.
Cada uma elaborou uma bela, adjetivo, resposta, à carta do fujão a partir de seu campo de atuação. Houve desde coreografia feita por dançarina, até escritora que apontou os erros ortográficos e de estrutura da carta. Não há na história dos casais atuais, ao menos que eu tenha conhecimento, vingança melhor que essa, erudita e megalomaníaca, internacional.
O que interessa aqui, são os tipos de relação e como tomam forma. Não é de se estranhar, que isso se torne público em época de redes sociais em que tudo é publicável, vira notícia, ainda que se trate do mais corriqueiro. Quase tudo interessa e fica muito apetitoso quando toma certa proporção, do individual ao coletivo, do singular ao universal, do particular à regra.
Isso permite que as tragédias individuais, que diga-se, sempre aconteceram, diminuam para o sujeito que sofre na medida em que são aumentadas, engrandecem ao ser compartilhadas. A lógica é imaginária, publica-se, há os que se identificam e todo o sofrimento singular parece redimir-se diante de outro que sofre "igual" e vive as "mesmas" experiências. Encontra-se soluções universais de um molde só.
Teria essa exposição ajudado Sophie na resolução de seu caso mal ajambrado? Aposto que sim. Mas teria isso tudo diminuído o sofrimento de Sophie, aquele de quando leu a carta pela primeira vez? Acho que não. Na tentativa de vingar-se, a artista perpetua a imagem da vítima que deu a volta por cima. Encontra uma saída universal, mas não muda de posição, ainda é a vítima, parece que isso lhe valeu mais a pena. É uma escolha.
Isso permite que as tragédias individuais, que diga-se, sempre aconteceram, diminuam para o sujeito que sofre na medida em que são aumentadas, engrandecem ao ser compartilhadas. A lógica é imaginária, publica-se, há os que se identificam e todo o sofrimento singular parece redimir-se diante de outro que sofre "igual" e vive as "mesmas" experiências. Encontra-se soluções universais de um molde só.
Teria essa exposição ajudado Sophie na resolução de seu caso mal ajambrado? Aposto que sim. Mas teria isso tudo diminuído o sofrimento de Sophie, aquele de quando leu a carta pela primeira vez? Acho que não. Na tentativa de vingar-se, a artista perpetua a imagem da vítima que deu a volta por cima. Encontra uma saída universal, mas não muda de posição, ainda é a vítima, parece que isso lhe valeu mais a pena. É uma escolha.