domingo, 18 de abril de 2010

Sophie não se callou

A exposição já se foi, mas pretendo que sirva para que eu possa falar de outra coisa. Sophie Calle é artista plástica por denominação, mas duvido que por concepção. Suas obras, de tão "literárias",  acabam virando livro, como em seu último trabalho no qual expôs a resposta de 104 mulheres à uma carta em que seu namorado, o também escritor Grégoire Bouiller, terminava o relacionamento amoroso que possuíam.

As respostas foram as mais diversas, claro, todas em oposição à Grégoire e solidárias à Sophie, ainda que veladamente, auxiliavam Sophie a dar seu troco. Convenhamos, o que esperar quando se pede à uma mulher, ou mais de uma,  que diga algo sobre alguém (um homem)  que termina um relacionamento por carta? Poderia ter sido por e-mail, SMS ou telefone, não seria diferente.

Cada uma elaborou uma bela, adjetivo, resposta,  à carta do fujão a partir de seu campo de atuação. Houve desde coreografia feita por dançarina, até escritora que apontou os erros ortográficos e de estrutura da carta. Não há na história dos casais atuais, ao menos que eu tenha conhecimento,  vingança melhor que essa, erudita e megalomaníaca, internacional.

O que interessa aqui, são os tipos de relação e como tomam forma. Não é de se estranhar,  que  isso se torne público em época de redes sociais em que tudo é publicável, vira notícia, ainda que se trate do mais corriqueiro. Quase tudo interessa e fica muito apetitoso quando toma certa proporção, do individual ao coletivo, do singular ao universal, do particular à regra.

Isso permite que as tragédias individuais, que diga-se, sempre aconteceram, diminuam para o sujeito que sofre na medida em que são aumentadas, engrandecem ao ser compartilhadas. A lógica é imaginária, publica-se, há os que se identificam e todo o sofrimento singular parece redimir-se diante de outro que sofre "igual" e vive as "mesmas" experiências. Encontra-se soluções universais de um molde só.

Teria essa exposição ajudado Sophie na resolução de seu caso mal ajambrado? Aposto que sim. Mas teria isso tudo diminuído o sofrimento de Sophie, aquele de quando leu a carta pela primeira vez? Acho que não. Na tentativa de vingar-se, a artista perpetua a imagem da vítima que deu a volta por cima. Encontra uma saída universal, mas não muda de posição, ainda é a vítima, parece que isso lhe valeu mais a pena. É uma escolha.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

GPS só para mulheres

Depois de passar quarenta minutos perdida entre dois quarteirões, sem conseguir chegar ao endereço desejado, começo a pensar fortemente em comprar um GPS.

Já tive experiências com alguns, sempre mal sucedidas, no carro de amigos. A primeira foi com a minha prima, pretendíamos chegar na casa de um amigo na praia. Linha reta, tudo bem, o problema é quando chega numa bifurcação. Vira à direita, vira à esquerda, direita e esquerda de novo e chegamos ao mesmo ponto. Por fim, optamos pelo tradicional, paramos no posto e perguntamos, certo e bom como bife com batatas fritas.

A outra foi com um casal de amigos no Rio. O problema me parece ser construções que ele não identifica, como viadutos, praças, etc. Como boa máquina, o GPS foi treinado somente para algumas espécies de caminho e é este que percorre. Você não. Nem preciso dizer que rodamos boa parte do Rio antes de chegarmos ao destino, sorte que o Rio de Janeiro continua lindo.

Por necessidade, então, começo a pensar na compra do tal aparelhinho. No entanto, penso numa versão adaptada para mulheres. Poderia vir na cor pink, ou com a opção de trocar capinhas, pra combinar com a cor do seu carro, da sua roupa ou do seu esmalte, por que não?

Na minha versão, não teria "vire à esquerda" ou "vire à direita". O mais coerente seria : "Vire para lá, ou para cá", compreenderíamos com muito mais facilidade do que ter que reparar em que pulso está o relógio ou em que mão está a aliança pra depois dobrar a rua.

A voz que fala com você, ah sim, não consigo pensar em outra que não a do Gianechinni. Imagine ele narrando de dentro do seu carro: "Linda, atenção, daqui a 500 metros você vai virar o carro à esquerda, à esquerda, viu! Faça isso por mim." Não tem erro.

E se nada disso funcionar, faça como eu hoje. Pare numa pizzaria, implore, chore se preciso,  para que o entregador te leve até o endereço. Você segue o bom moço que conhece tudo do bairro e de quebra, quem sabe, não acaba tudo em pizza?


segunda-feira, 5 de abril de 2010

É isso mesmo e não é mentira

Que gosto muito da cultura francesa não é novidade pra ninguém. Mas que eles têm umas coisas bestas, isso eles têm. Falo isso com a propriedade de quem  cuidou de criança francesa.
Eu sei que está atrasado, mas como francês nunca chega na hora e a pontualidade é britânica...
No dia 1o de abril, data em que aqui no Brasil tem gente que faz aquelas piadinhas pra pegar os outros, lá na França eles fazem uma coisa mais sem graça ainda. As crianças brincam de " poison d'avril".
O costume é o seguinte: faz-se um ou mais peixinhos de papel colorido e você chega perto de um amigo, bate nas costas e deixa o peixe grudado. A figura fica passeando com o negócio pendurado nas costas, até que alguém perceba, ou ele mesmo e então se grita: "Poison d'avril!"
OK, não precisa nem deixar seu com aí embaixo, eu compreendo.



quinta-feira, 1 de abril de 2010

Eu discuto com bêbado

Sou, dizem, do tipo que discute com bêbado. Quando estou disposta,  gosto de criar uma polêmica(zinha), não do tipo barraco, porque não combina comigo, mas provocador, irônico.
Eu era mais, dizem, do tipo que fala o que pensa, sempre, sem muitos rodeios. Mas acho que mudei consideravelmente, juro! Quer um exemplo?

Hoje, depois de um dia péssimo, no trabalho, na vida pessoal, resolvi, pra não piorar ainda mais as coisas, trocar um sorvete pela compra de um esmalte. Afinal, os dois custam cerca de dois reais e o segundo não me faz engordar. No máximo, posso pegar uma intoxicação se resolver roer as unhas.

Estava na lojinha e veio uma mulher ao meu lado perguntar o que eu achava de ela levar um esmalte bege "café com leite" pra fazer um "craquelet". Eu: " O que é um craquelet? " - só pra testar se ela falando,   não iria se dar conta da grande besteira que faria. Ela, a do "craquelet": "Ah...é uma técnica que você faz uns riscos na unha, usa duas cores, a de baixo vai aparecer com os riscos que você fizer na de cima."

A minha vontade era dizer: "Minha senhora, isso vai ficar horrível. Vai parecer que as suas unhas estão descascando e por baixo, com esse "café com leite",  suas unhas vão parecer sujas! Vai ficar muito pior do que essas florzinhas que estão na sua unha agora!!!"

Mas eu, depois de respirar fundo, despejei: "Parece que vai ficar ótimo." E pensei que faria pouca diferença o que eu penso sobre esse e diversos assuntos para muitas pessoas. Deixe ela craquelar em paz e florear as unhas ou o que quiser. Viva o respeito ao outro e que os bêbados não se aproximem...