segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sobre medos "In on it"

Três coisas a dizer sobre "In on it", peça em cartaz no teatro da Livraria Cultura, com texto do canadense Daniel Macivor, direção de Henrique Diaz, com os autores Emílio de Mello e Fernando Eiras.

Primeiro, o nome é dificílimo de pronunciar, tente você: " In on it", enrola a língua e eu tenho que pensar pelo menos dez minutos antes de falar. Depois,  o texto é ótimo e vale a interpretação brilhante dos atores. Já são três coisas, mas existe mais uma a ser dita. É uma peça que se propõe a falar do fim, mesmo sem concebê-lo, a não ser pelo próprio limte do tempo, que faz com os espectadores saiam do teatro.

O corte inicial é de um dos personagens recebendo a sentença de que está doente. O sonho do paciente: "Um barco de concreto" e o médico, aterrorizado,  incapaz de dizer que isto sinaliza algo que afunda, terminal como sua doença: "Faça os exames e conversaremos depois". A dificuldade  humana em dizer do fim está posta desde o início.

Seguem-se cenas em que se trata do término. Relacionamentos entre homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher, pai e filho, isso circula entre os mesmos personagens que são interpretados ora por um, ora pelo outro ator e se fixa na fala de um deles. "Enfins", está sempre no discurso de um. "Não existe essa palavra", diz o outro, sinalizando novamente que o fim é algo que não se diz, que não se concebe no início, a não ser nele mesmo.

Há um bom momento em que aparece o  medo que temos,  não exatamente do fim, mas do que vem depois. Temos medo de perder isto que vivemos e que é conhecido, vive-se, vive-se, vive-se repetidamente e foge-se com desespero do que não sabemos. Ilusão que usamos para nos defender, nem tão boa, mas necessária.

Ensaiados vários finais, a peça termina sem nenhum deles, aponta para morte, mas não certifica. Acertadamente não afirma algo de que é impossível ter certeza. Recomeça para não ter fim.