terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Pilar e José"

Ao me dirigir ao cinema no último domingo para assistir ao documentário "José e Pilar" pensei logo numa história de amor daquelas com coincidências que não se explicam e declarações de causar inveja, mais escritas do que faladas em se tratando de Saramago, mas mesmo assim expostas na tela.

Não é disso que se trata o filme e é também. Mais de Pilar do que de José a história se compõem em torno de uma mulher que é um furacão, forte e que impõe suas vontades. Pode-se à primeira vista ingenuamente pensar numa Pilar dominadora, que faz valer seus princípios mesmo que isso custe o cansaço e a saúde de um já velhinho Saramago.

Há uma cena impressionante em que ela diz que não há tempo para o descanso e para entristecer-se, entre vôos partindo da Espanha para o mundo todo a fim de cumprir uma agenda que vai de feiras literárias a inaugurações de exposições, ela chega atrasada para o enterro da própria mãe. Causou-me uma certa raiva essa Pilar.

Mas é ela que põe a roda a girar, fazendo crescer a obra de um homem que começou a escrever com 60 anos e a conheceu com 63. Eles não têm muito tempo, ela sabe disso e ele também. O tema da morte é recorrente no documentário.

Mas é também essa Pilar quase 30 anos mais jovem o grande amor da vida de Saramago, que a perdoa de seus exageros e a certo momento diz que deseja que ela "o continue" e ele sabe que isto ela pode fazer.

 " Pilar, que demorou a nascer e tardou a chegar " - é o que ele diz sobre ela. E para que declaração maior se a grande prova de amor se deu na convivência e no desejo de continuar quando ele diz no final...Bem, vale a ida ao cinema para saber.

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